
Nesta quarta-feira (20), a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), sob a acusação de tentarem obstruir informações em uma ação penal relacionada aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta ainda a participação do pastor evangélico Silas Malafaia, líder religioso e aliado político de Bolsonaro.
Segundo os investigadores, a trama também contava com articulações envolvendo membros do governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse aspecto internacional reforça a gravidade das acusações, já que conecta os eventos ocorridos em Brasília com redes políticas externas, especialmente ligadas ao discurso de deslegitimação de eleições democráticas.
Essa decisão constou no relatório entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal) e resultou também em um mandado de busca e apreensão que ocorreu após Malafaia desembarcar no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
Mandados de busca e apreensão
A decisão que resultou no indiciamento foi acompanhada da expedição de mandados de busca e apreensão. Um deles foi cumprido logo após o desembarque de Silas Malafaia no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, vindo de Lisboa, onde havia participado de eventos religiosos.
No momento da operação, a Polícia Federal apreendeu celulares e outros dispositivos eletrônicos do pastor. Além disso, o STF, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, impôs medidas cautelares contra Malafaia, proibindo-o de deixar o país e de manter contato com outros investigados do inquérito.
Envolvimento de Malafaia
De acordo com a investigação, Silas Malafaia teria atuado de maneira direta na definição de estratégias voltadas para contestar o processo eleitoral e coagir autoridades brasileiras. As suspeitas surgiram a partir da análise de duas operações anteriores contra Jair Bolsonaro.
A primeira delas ocorreu em 18 de julho, quando o ex-presidente foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica após descumprir determinações judiciais. A segunda operação foi realizada em 4 de agosto, quando novas infrações às medidas cautelares levaram à decretação de prisão domiciliar.
No relatório mais recente, a Polícia Federal conseguiu recuperar mensagens trocadas entre Bolsonaro e Malafaia que haviam sido apagadas. Essas comunicações, anexadas ao processo pelo ministro Moraes, demonstram que o pastor teria agido de forma “livre e consciente” na elaboração e disseminação de narrativas falsas, com o objetivo de dar sustentação à tentativa de descredibilizar instituições democráticas.
Conversas reveladas
Entre as mensagens recuperadas, Moraes destacou aquelas em que Malafaia buscava “direcionar a conduta” de Bolsonaro em momentos de crise. Em algumas delas, o líder religioso sugeria estratégias de comunicação para fortalecer a narrativa de perseguição política contra o ex-presidente.
Também vieram à tona conversas em que Jair Bolsonaro teria discutido com aliados a possibilidade de solicitar asilo político ao presidente argentino, Javier Milei. Esse ponto chamou a atenção das autoridades, pois indica que Bolsonaro cogitava deixar o país diante do avanço das investigações e do cerco judicial.
Eduardo Bolsonaro e a obstrução
O deputado federal Eduardo Bolsonaro também foi citado no relatório. Segundo a Polícia Federal, ele teria atuado em conjunto com o pai para dificultar o acesso a informações cruciais sobre a trama do 8 de janeiro. Mensagens, reuniões e contatos políticos internacionais reforçam a suspeita de que Eduardo participou ativamente da elaboração de estratégias que buscavam desacreditar o sistema eleitoral brasileiro.