
Nesta segunda-feira (18), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontra com líderes europeus e representantes da Otan para pressionar por um acordo que encerre a guerra entre Rússia e Ucrânia, conflito iniciado em fevereiro de 2022 e que já deixou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados.
A reunião acontece em território norte-americano, em um gesto que reforça a tentativa de Washington de se posicionar como peça-chave nas negociações internacionais. A escolha do Alasca, palco do encontro anterior entre Trump e Vladimir Putin, não é vista como coincidência, já que o estado norte-americano simboliza geograficamente a ponte entre Ocidente e Oriente.

Encontro com Putin e proposta controversa
O novo capítulo das negociações ocorre logo após Trump ter se reunido com o presidente russo, Vladimir Putin, em Anchorage, no Alasca. Apesar de o encontro não ter resultado em um cessar-fogo imediato, o republicano avaliou o diálogo como um “grande progresso”.
Entre os pontos discutidos com Putin está uma proposta altamente polêmica: a paralisação da guerra na situação atual, o que, na prática, significaria o reconhecimento da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, além de áreas ocupadas no Donbas e em Zaporizhzhia, como parte do território russo.
Esse modelo de acordo vem sendo duramente criticado por autoridades ucranianas e por parte da comunidade internacional, já que legitimaria avanços obtidos por meio da força militar.
Resistência ucraniana
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu com firmeza à possibilidade de ceder território como condição para encerrar o conflito. Em publicação na rede social X, o líder ucraniano reforçou que “os ucranianos estão lutando por sua terra, por sua independência” e que o país não pretende abrir mão de sua soberania ou desistir da meta de integração à Otan.
Zelensky sinalizou que poderia participar de um encontro que envolvesse diretamente Putin, mas destacou a necessidade de garantias internacionais robustas para evitar que uma eventual trégua se transforme em uma nova oportunidade para o Kremlin reorganizar suas forças e retomar ataques, como já ocorreu em 2023, quando uma pausa de 48 horas terminou em bombardeios adicionais.
Avanços militares e dificuldade de cessar-fogo
De acordo com dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), as tropas russas avançam atualmente a uma média de 15 a 16 km² por dia em território ucraniano. Esse ritmo, mesmo que relativamente pequeno em comparação ao início da guerra, mantém Kiev sob pressão constante e dificulta qualquer tentativa de estabilização do front.
Tentativas anteriores de cessar-fogo fracassaram justamente porque não contavam com monitoramento internacional efetivo. Analistas avaliam que, sem garantias externas, qualquer pausa corre o risco de ser utilizada por Moscou para ampliar suas vantagens estratégicas.
Mediação estratégica dos EUA
Ao liderar as negociações, Trump busca reforçar o papel indispensável dos Estados Unidos como mediador global, num momento em que cresce a pressão interna para reduzir os gastos militares destinados à Ucrânia. Estima-se que Washington já tenha destinado mais de US$ 70 bilhões (cerca de R$ 380 bilhões) em apoio militar e humanitário desde o início da guerra, um valor que gera divisões no Congresso e entre a opinião pública norte-americana.
Ao mesmo tempo, Washington sinaliza que o fim do conflito poderia reposicionar o país como principal arquiteto da paz no século XXI, em um contraste com a diplomacia europeia, tradicionalmente exercida em cidades como Genebra e Viena.
Quem participa do encontro
Entre os líderes que acompanham Zelensky na reunião estão figuras de peso da política europeia:
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Emmanuel Macron, presidente da França;
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Friedrich Merz, chanceler da Alemanha;
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Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália;
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Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
A presença desses líderes reforça a tentativa de construir uma frente unificada, ainda que existam divergências internas na União Europeia quanto às concessões aceitáveis em uma eventual negociação.
O que esperar das negociações
Especialistas avaliam que, embora a reunião de hoje dificilmente resulte em um cessar-fogo imediato, ela pode pavimentar o terreno para negociações mais consistentes. Diferente de outras tentativas marcadas por trocas rápidas e declarações vagas, a atual rodada se aproxima do modelo de diplomacia clássica, com discussões multilaterais e a presença de diversos atores estratégicos.
Ainda assim, o maior obstáculo segue sendo a divergência entre as exigências de Moscou — reconhecimento de territórios anexados — e a posição firme de Kiev em manter sua integridade territorial e sua soberania nacional.
Enquanto isso, a população ucraniana continua sofrendo os efeitos da guerra, com cidades destruídas, infraestrutura colapsada e milhões de pessoas vivendo como refugiados dentro e fora do país.